Um dos principais expoentes do movimento Dogma 95, o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg nos brinda com Druk: Mais Uma Rodada, um provocador filme sobre o consumo de álcool.
No filme, quatro professores de colégio estão entediados e, por isso, são entediantes. Como resultado, suas burocráticas aulas não conseguem estimular seus alunos. Quando o protagonista Martin (Mads Mikkelsen) é criticado por pais e alunos durante uma reunião, ele desabafa com os amigos. Então, o grupo resolve testar neles mesmos a teoria de um especialista que afirma que as pessoas vivem melhor mantendo 0,05% de álcool no corpo.
Assim, os professores começam com uma dose pequena e percebem um ótimo resultado. Porém, logo se empolgam e aumentam as quantidades. Como consequência, além de apresentarem um comportamento social e professional prejudicial, um deles se torna dependente do álcool.
Direção talentosa
Com talento, a direção de Thomas Vinterberg permite ao espectador se empolgar com o estado de embriaguez dos personagens. De fato, com doses baixas, o álcool desinibe os professores e a substância serve para despertá-los do conformismo. Com isso, alguns trechos são bem divertidos. Nesse sentido, merece destaque a cena em que Martin revela como algumas figuras históricas eram bebedores inveterados. Como complemento, o filme reforça isso com uma montagem de imagens de chefes de estado revelando sua embriaguez em público.
Por outro lado, Druk: Mais Uma Rodada também conduz o espectador a vivenciar o lado ruim das bebidas alcoólicas. Assim, mostra o grupo ultrapassando os limites e se comportando muito mal nas ruas e, consequentemente, em casa. Logo, os relacionamentos familiares se deterioram. Para piorar, um dos professores se torna perigosamente viciado.
E Thomas Vinterberg atinge o público dessa maneira através de vários recursos. Por exemplo, ele movimenta a câmera tanto para espelhar a empolgação das bebedeiras como também a amargura dos efeitos contrários. Além disso, a trilha sonora é outro elemento envolvente, com músicas de vários estilos que são perfeitamente adequadas para cada momento dramático. Em especial, destaca-se “What a Life”, do Scarlet Pleasure, presente na conclusão do filme.
Atuação de Mads Mikkelsen
Além disso, a atuação de Mads Mikkelsen é estupenda. Repetindo a parceria de A Caça, o ator novamente acrescenta emoção num filme de Vinterberg. De fato, a capacidade dele de expressar emoções, mesmo sem falar nada, fica evidente em várias cenas. Por exemplo, na primeira vez que o vemos em sala de aula, bem como no jantar inicial onde resolvem iniciar o projeto do uso do álcool. E ainda ele apresenta incríveis passos de dança na sequência final.
Nos créditos finais, Thomas Vinterberg dedica o filme a Ida, que é Ida Maria Vinterberg, a filha do diretor. Ele pretendia escalá-la para interpretar uma das filhas do personagem Martin. Porém, ela veio a falecer quatro dias antes do início das suas filmagens.
Com tudo isso, Druk: Mais Uma Rodada é um filme envolvente que diverte e provoca. Ele aborda o aspecto desinibidor da bebida, mas não é uma apologia ao álcool. Através dele, o espectador experimenta os altos e baixos de seu uso.
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Ficha técnica:
Druk: Mais Uma Rodada (Druk) 2020. Dinamarca/Suécia/Holanda. 117 min. Direção: Thomas Vinterberg. Roteiro: Thomas Vinterberg & Tobias Lindholm. Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang, Lars Ranthe, Maria Bonnevie, Helene Reingaard Neumann, Susse Wold, Magnus Sjørup, Silas Cornelius Van.
Distribuição: Vitrine Filmes.
Assista ao trailer aqui.